Em breves palavras: uma geração de jovens sem perspectiva de futuro, excluídos do mercado de trabalho e da vida social, uma situação de saúde pública e econômica cada vez preocupante nos centros urbanos, periferia e zonas rurais do município.
Uma ordem social em formação sem a
força ideológica que levava jovens às ruas em busca de mudanças em outros
tempos. Com toda a certeza esse afastamento dos jovens das atividades
culturais, do mercado de trabalho, e da vida social provocará sérios prejuízos
ao futuro de toda a sociedade.
O VAZIO DE UMA ÉRA
Uma parcela da população de
jovens e adolescentes, em regra entre os 15 e 34 anos, nunca tiveram um emprego,
enquanto que outra metade de jovens, nessa mesma faixa etária, perderam seus
empregos nos últimos anos, e não conseguem voltar ao mercado de trabalho, seja
pela falta de qualificação profissional para ocupar uma vaga numa empresa, ou
pelas inúmeras exigências criadas por empresas para um jovem em início de
carreira, e ainda, por questões pessoais que acabam impedindo esse retorno ao
mercado. O que se sabe é que, quanto mais tempo, um jovem permanecer afastado
do mercado de trabalho mais difícil fica o seu retorno.
Um jovem sem qualificação profissional, sem emprego ou atividade econômica, resulta num cidadão apático, distante dos debates políticos, sociais e culturais de uma sociedade. Uma geração de cidadãos que deixam de opinar e passam a aceitar o que a sociedade impõe sem questionamentos.
Esse afastamento e isolamento social afeta diretamente a autoestima de um jovem, principalmente, nos primeiros anos de sua adolescência, já que nessa fase ocorrem muitas transformações no corpo e na mente. Aceitar que seu corpo está mudando já é complicado para muitos jovens. Em muitos momentos o medo da rejeição, afinal de contas, alguns meninos chamam mais atenção ao desenvolverem seus corpos, enquanto que outros sequer são notados, ou, algumas meninas levam mais tempo para ter um corpo mais atraente. Por fim, corpo e mente estão em profunda transformação e numa verdadeira bagunça dentro e fora de um jovem.
Para alguns jovens essa fase de transformação é mais tensa, pois que, além das transformações provenientes dos hormônios em seu corpo, existem as transformações exigidas pela sociedade e de seus familiares.
Pais, mães e responsáveis também são
transformados pelas transições de fase em suas vidas. De repente, o filho que
acompanhava o pai em todos os jogos, deixa de permanecer na sala e está
trancado no quarto sozinho ou jogando vídeo game com os outros colegas. A
menina deixa de se maquiar igual a mãe e passa a se vestir como as outras
meninas da escola. Tudo isso somado as regras da sociedade que impõe aos jovens
a devida preparação para o vestibular aumentando a carga horário para os
estudos. É nesse momento que as ideias se misturam e muitos jovens desistem da
escola.
Esses fatores internos e externos
podem levar os jovens a ter depressão ou ansiedade nessa fase da ‘crise
existencial’ de todo o ser humano.
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No Japão, essa situação de baixo autoestima entre as gerações de jovens do pós II Guerra Mundial acabou sendo recepcionada em seus tradicionais animes, após um aumento dos números de suicídios entre os jovens.
Embora o Japão com alto índice de
desenvolvimento, tecnologias avançadas, baixa criminalidade, após três décadas
de estagnação econômica e a pressão imposta aos jovens sendo muito alta,
fatores que passaram a interferir diretamente nas relações sociais de alguns
jovens, que, se isolam em seus quartos deixando de interagir com outros jovens
da mesma idade e até mesmo com seus familiares.
Atualmente, os índices de suicídios no Japão estão em torno de 30 mortes para cada 100 mil habitantes. No ano de 2014, mais de 25 mil pessoas cometeram suicídio, uma média de 70 pessoas por dia, a maioria de pessoas que tiraram a própria vida, são homens. No Japão, o suicídio é visto como forma de responsabilizar-se por atos pessoais, e, por isso o alto índice de mortes de pessoas do sexo masculino, por, assumirem a responsabilidade financeira e o fracasso profissional.
Outro fator que estimulada a
prática de atentarem contra a própria vida está na situação em que muitas
pessoas – da sociedade moderno – vivem hoje: sozinhas. Pessoas que vivem
isolados e abandonados socialmente, até mesmo por parentes. Mas, ainda mais
alarmante são os casos de suicídios de homens entre 20 a 40 anos que, por
questão financeira, ceifaram as próprias vidas num ato de desespero.
O número de suicídio entre os
jovens japoneses cresceu drasticamente, após a crise financeira asiática de
1998, aumentando em 2008, com a crise financeira mundial e se acentuou durante
a crise sanitária provocada pelo Covid-19.
Em 2021, foi criado pelo governo
japonês, o Ministério da Solidão, uma pasta voltada para tentar amenizar essa
grave crise de saúde mental associada a depressão e à crise sanitária derivada
do Covid-19.
Nos anos que sucedeu as primeiras
manifestações do vírus cerca de 21.919 pessoas se suicidaram no país, dos quais
479 eram estudantes e 6.976 mulheres, um dos dados mais preocupantes observados
no país.
A proposta do Ministério é de
trabalhar em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Regional, para
enfrentar as também as baixas taxas de natalidade.
CAMPO VAZIO
Também naquele país, o campo vem
perdendo sua atratividade para os agricultores jovens, e, muitas propriedades
rurais encontram-se abandonadas. Normalmente, essas casas são distantes dos
centros urbanos, e, muitas delas foram habitadas por idosos sem filhos ou, que
os mesmos não possuem interesse em voltar a residir nas áreas rurais das
cidades.
Desde 1990, existe um sistema criado, pelo governo japonês, chamado de banco da casa vazia ou bancos akiya, que possibilita o retorno de familiares de agricultores, ou de pessoas que queiram encontrar uma casa maior em áreas próximas a natureza e, bem mais baratas para comprar. Em alguns lugares, mais remotos ou dependendo do histórico do imóvel, o interessado apenas paga os impostos e taxas e, realiza a mudança para sua casa quase ‘grátis’.
Um programa estatal, que também oferece oportunidade para pessoas de outros países possam adquirir imóveis vazios no território japonês, passando a residir nessas regiões abandonas pelos japoneses é o programa 'Settlement Advisors'
O mais surpreendente é que para o
ano de 2033, o Japão terá cerca de mais de 20 milhões de novos imóveis
abandonados entre cidades e campo.
Estranho, não é mesmo?
O campo oferece tantas
oportunidades para gerar renda e as pessoas fogem dele alegando ficarem
isoladas no meio do mato, entretanto, passam a viver isoladas na selva de
pedra. O ser humano é muito intrigante mesmo.
Retornando aos jovens e a falta
de política pública para gerar oportunidade ocupacional para os mesmos.
No Reino Unido em 2018, durante o governo de Theresa May, foi instituído uma Secretaria de
Estado para lutar contra a solidão.
Ainda no Japão, de acordo como
Instituto de Investigação Mizuho, existe a previsão de que em 2040, cerca de
40% dos lares japoneses serão habitados por apenas uma pessoa. Em questão de
emprego, estima-se que quase 40% dos jovens japoneses estão fora do mercado de
trabalho e, o isolamento, a falta de perspectiva para um futuro promissor numa carreira
que sequer começa, agrega a uma cultura de evitar expor sentimentos como raiva
e frustração, encontram na morte a sua única forma de expressar suas angustias.
Outro fator que aumenta os
números de jovens isolados é a tecnologia, uma condição conhecida como
hikikomori – um tipo de isolamento social grave.
Hikikomori é um transtorno mental
marcado pelo isolamento sócia grave, físico e interpessoal, que dura ao menos
seis meses. Fenômeno que se tornou caso de saúde pública na Ásia, durante a
décadas de 1990.
Solidão, exílio voluntário, tendo o quarto como seu cárcere, horas em frente ao computador, amigos virtuais, pornografia, procrastinação e falta de ocupação, seja trabalho ou estudo, são efeitos da rotina do isolamento e sintomas do transtorno de Hikikomori.
Diante de uma situação tão
alarmante envolvendo a saúde mental de sua população, o governo japonês decidiu
não ser passivo e, através do Ministério da Solidão, passou a criar campanhas e
ações de políticas públicas voltadas aos cuidados com a saúde mental e
prevenção do suicídio. Também está criando programas para cuidar das pessoas
que vivem sozinhas.
Uma pesquisa feita na Grã-Bretanha em meados de 2010, apontava que os jovens se sentiam mais solitários do que os adultos com mais de 55 anos. A pesquisa apontava que a tecnologia acentuava o isolamento dessa geração de jovens – naquela época nem tínhamos tamanho acesso aos inúmeros aplicativos de conversas eletrônicas.
No Brasil também houve um aumento
de suicídios cometidos por jovens, um problema de saúde pública que precisa ser
controlado começando por medidas de apoio aos jovens e campanhas educativas
para familiares, professores e jovens, ensinando a população a identificar os
primeiros sinais de alerta.
MEDIDAS PREVENTIVAS PODEM AJUDAR A SALVAR VIDAS
Pessoas que tentam tirar a
própria vida, são mais sensíveis ao mundo externo, e problemas com
relacionamentos, violência doméstica, falta de trabalho, sentimento de
rejeição, sofrimento por assédio moral, assédio sexual, agressões físicas e
psicológicas, falta de autonomia, álcool, drogas, conflito em torno da
identidade sexual, intimidação, problemas de saúde quanto a ser portador de
necessidades especiais - física ou mental são alguns dos fatores que tornam
pessoas susceptíveis ao suicídio.
Outros fatores como a depressão,
o estresse e a ansiedade podem desencadear no individuo a necessidade de
isolar-se, e, com o tempo o surgimento de pensamentos negativos que culminam na
vontade de tirar a própria vida como medida de por fim ao desespero que sentem
no momento mais crucial de uma crise.
CRISE ECONÔMICA INFLUENCIA O AUMENTO DAS TAXAS DE SUÍCIDIO
Quando um evento externo mobiliza
uma população inteira, como ocorre com as crises econômicas, guerras, pandemia,
a fome, a seca, entre outros fatores, nosso emocional é impactado direta ou
indiretamente, e somos testados todos os dias em como lidar com esses problemas
externos que afetam diretamente a nossa vida pessoal.
Algumas pessoas conseguem entrar
e sair de uma crise financeira, profissional, de saúde, de fim de
relacionamento, etc., fortalecidas ou amadurecidas, outras, não conseguem
resistir à pressão.
Um estudo publicado em 2013 pelo
British Medical Journal estimava que quase 4.900 suicídios foram cometidos a
mais do que o esperado no ano de 2009, meses depois da crise econômica global
de 2008, em 54 países, a maioria deles concentrados na Europa. Entre as pessoas
que perderam suas vidas, estavam os homens desempregados entre 45 e 64 anos
Outro estudo de 2016, realizado
pela Organização Mundial de Saúde, apontava que cerca de 80% dos suicídios provinham
de nações de renda baixa e média. Em lugares mais remotos, foram notados um
acentuado índice de suicídios, entretanto, estão mais escondidos, ou melhor,
são os números de vítimas invisíveis de uma sociedade que não quer ver a solidão
dos jovens, dos idosos, dos mais frágeis, dos esquecidos.
As pessoas que cometem suicídio são
em maioria aquelas que não se permitem mostrar sentimentos, acreditam em poder
sair de crises tanto financeira, quanto emocional sozinhas. Em algumas
situações essa resistência a identificar o problema e pedir ajuda deriva das
crenças sociais, culturais e questões morais relacionadas à culpa pelo fracasso
e o medo de ser cobrado pela sociedade.
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