O HOMEM COMO ATOR SOCIAL
A sociedade surgiu espontaneamente, porém sua estruturação, exigiu normas jurídicas e uma divisão do trabalho de acordo com os meios de produção.
Assim, os meios de produção começaram a definir as expectativas de distribuição de poder, crença religiosa e riqueza entre os indivíduos dessa sociedade.
Com o tempo, a interação entre os homens e o resultados do seu trabalho deixou de ser apenas uma questão de sobrevivência.
A dinâmica atual é definida pela dominação territorial e pelo controle exercido pelas potências produtivas sobre os vulneráveis, baseado na apropriação do valor agregado do trabalho.
Estamos acompanhando os condições impostas pelos Estados Unidos ao Brasil e outros países, em relação aos aumentos tributários sobre os produtos de importação.
Sob a justificativa da Casa Branca de "emergência nacional", e alegando que políticas públicas e ações do governo brasileiro poderiam prejudicar empresas norte-americanas e a economia dos EUA. 🔗
Assim, o governo norte-americano, tenta demostrar a sua força política como uma pressão unilateral que afeta setores-chave da balança comercial brasileira.
Ainda que parte da pauta tenha sido preservada, os prejuízos podem ser expressivos caso não haja renegociação ou diversificação de mercados.
Karl Marx concluiu que, a sociedade se divide em detentores e não detentores dos meios de produção.
Se um Estado soberano e democrático como o Brasil já se vê limitado por entraves políticos, é fácil perceber como essas limitações se agravam para indivíduos em situação de vulnerabilidade, como so de baixa escolaridade e subemprego.
Aqueles que não possuem os meios de produção oferecem o que têm: sua força de trabalho, ficando subordinados ao controle daqueles que detêm maior poder econômico.
Assim seguimos ocupando uma escada hierárquica consolidada pelo poder e pela dominação do homem sobre o homem.
A pirâmide social está formada:
- No topo estão a nobreza e os proprietários dos meios de produção.
- No meio, uma classe média composta por profissionais autônomos, comerciantes e membros das forças armadas;
- Na base, a grande massa popular, inicialmente escravizada pela falta de liberdade, encontra-se agora subjugada pelo valor de um salário.
São as relações de produção que determinam a classe social em que o indivíduo se encontra.
O PAPEL DA RELIGIÃO NA CONSTRUÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL
Para Marx e Engels, os conceitos modernos de religião, direito, política, filosofia, arte, literatura e outros moldam o desenvolvimento econômico das sociedades contemporâneas.
Na Grécia Antiga, Aristóteles já defendia uma hierarquia social baseada no tipo de trabalho. Ele considerava os trabalhadores intelectuais superiores aos braçais, refletindo essa visão em sua organização da pirâmide social.
A força intelectual é frequentemente associada às classes mais abastadas, enquanto a força braçal é vinculada aos mais pobres, refletindo sua posição social.
Ainda com base nos princípios de Aristóteles, que define o trabalho como uma atividade racional voltada para alcançar um objetivo útil e prazeroso, podemos identificar os seguintes tipos de trabalho:
- Trabalho Manual: é aquele que exige força física e habilidades com a mãos, como a agricultura, a construção, o artesanato, etc.
- Trabalho Intelectual: é aquele que exige o esforço mental, produzido através da inteligência resultante dos métodos de reflexos produzidas pelo conhecimento, como a filosofia, a ciência, as artes, etc.;
- Trabalho político: toda aquele que exige virtude e liderança, como a administração, a educação, a justiça, etc.
O trabalho intelectual era considerado superior ao dos trabalhadores braçais e políticos. Acreditava-se que os intelectuais eram mais felizes, pois estavam sempre em contato com o conhecimento, buscando assim maiores benefícios para o bem comum.
Nada seria mais justo do que a administração pública estar sob a responsabilidade dos trabalhadores intelectuais, graças à sua visão mais ampla e racional da realidade.
Se você quiser saber mais leia também:
- O RACIONAL E O RAZOÁVEL: ARISTÓTELES E O TRABALHO HOJE
- ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO. ARISTÓTELES E A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO
É fundamental lembrar das ideias de Rousseau sobre as desigualdades sociais. Ele defendia que essas desigualdades resultam de relações morais e políticas, além de fatores como força, idade, condição de saúde e características mentais de cada indivíduo.
Esses fatores combinados geram uma dinâmica de controle social, onde a força intelectual passa a dominar a força motriz, valendo-se de instrumentos como o poder e a dominação.
Para Max Weber, a sociedade normatizada está organizada em torno dos meios de produção e da posse ou ausência de posse desses meios.
Para organizar os meios de produção, é fundamental criar métodos que regulem a convivência humana.
Embora todo os homens nasçam iguais, cada um desenvolve uma personalidade única, agindo de forma distinta em seu contexto social . Por isso, são imprescindíveis mecanismos sociais que regulam e normatizam o comportamento coletivo, como a Religião e o Direito.
Os dogmas religiosos levam os indivíduos a adotarem comportamentos semelhantes dentro de um espaço geográfico específico.
Der Bauer ist so stark an die Natur gebunden, so abhängig von organischen Prozessen und natürlichen Erscheinungen und wirtschaftlich so wenig rationalisierbar, daß er überhaupt nur dann religiös zu werden pflegt, wenn er durch innere (fiskalische oder herrschaftliche) oder äußere (politische) Mächte damit bedroht wird, zum Sklaven oder Proletarier zu werden 🔗
Weber demonstra que a condição moral do indivíduo instiga nele o medo da justiça humana e divina, além de revelar que a religião pode ser usada como instrumento para exercer o poder de forma dominante e opressiva.
"O modo de viver do guerreiro não tem afinidade nem com a ideia de uma providência bondosa nem com a de exigências éticas sistemáticas de um deus supramundano. Conceitos como 'pecado', 'redenção', 'humildade' religiosa não apenas costuma estar muitos distantes dos sentimentos de dignidade de todas as camadas politicamente dominantes, sobretudo do da nobreza guerreira, como diretamente o ofender. Aceitar uma religiosidade que opera com esses conceitos e inclina-se ante o profeta ou sacerdote deve parecer a um herói de guerra ou a um homem nobre - tanto o romano ainda do tempo de Tácito quanto o mandarim Confúncio - um ato ignóbil e indigno" 🔗
De fato, a noção do sagrado muitas vezes não se alinha com a realidade dos nobres ao longo de diversos momentos históricos marcados por grandes guerras.
A religião, por meio da fé, consolidou-se como um poderoso instrumento de controle social durante a Idade Média, especialmente no período da Inquisição, abrangendo grande parte do mundo ocidental.
Ao vincular salvação eterna à obediência doutrinária, a igreja não apenas difundiu uma cosmovisão religiosa, mas também erigiu um sistema normativo que regulava cotidianamente a vida política, econômica e cultural das sociedades medievais.
A fé cristã, ao se expandir sob a égide da igreja Católica e, mas tarde, das igrejas Protestantes, tornou-se uma engrenagem sutil e poderosa de regulação social.
Lentamente, foi tecendo uma rede de códigos morais e éticos que infiltrou na psique coletiva: culpa, medo do pecado e promessa de salvação funcionaram como freios internos, moldando desejos e reprimindo impulsos que desafiassem a ordem estabelecida.
Assim, barreiras invisíveis ergueram-se na mente de cada indivíduo - muros mais eficazes que qualquer prisão física - convertendo-se num controle social que faz a própria vontade pessoal se curvar às exigências do ambiente.
Dogmas profundamente arraigados, propagados por líderes religiosos, consolidam-se como um mecanismo de controle social de rara eficiência: sob o manto de servidores de uma entidade universal, invisível, onisciente e onipotente, esse líderes fazem prevalecer sua própria vontade.
A figura divina, invocada como supremo árbitro, funciona como um tribunal moral que jamais se desloca do bando dos réus; suas sentenças - sempre proferidas em nome do sagrado - convergem sistematicamente com os interesses do capital e da ordem social dominante, abençoando hierarquias, legitimando desigualdades e silenciando dissidências sob o peso inquestionável do "verdadeiro" mandamento.
A religião torna-se um meio de ajuste social, mantendo cada pessoa em seu papel pré-determinado.
Weber revela um mecanismo sutil: quanto mais simplista o pensamento, mais permeável se torna a uma dominação que não se impõe pela riqueza ou pela força, mas pela cadência hipnótica da palavra e pela firmeza absoluta da vontade que a profere. É uma sujeição sem cofres nem exércitos - apenas a voz que se faz lei e a fé que se faz corrente.
Povos inteiros já se inclinaram ante o poder hipnótico da palavra articulada como instrumento de dominação - não pelo peso das armas, mas pela engenharia retórica e pelo fulgor intelectual do grupo que detém o discurso.
O exemplo mais trágico que a história registra é a ascensão de Adolf Hitler: uma única voz, sustentada por uma engrenagem dialética meticulosa, converteu-se em torrente que varreu consciências, dissolveu resistências e transformou multidões em coadjuvantes de seu próprio aprisionamento moral.
A DIALÉTICA MODERNA
Embora nenhum cenário seja clonado, hoje existem formas contemporâneas de 'dominação pela palavra' que repetem, em moldes digitais, a lógica weberiana:
1. Discursos carismáticos em redes socias:
- Influencers, pastores digitais ou líderes políticos que constroem bases fiéis com narrativas simples, emocionais e repetitivas, mobilizando multidões sem depender de coerção física - exatamente a dominação carismática descrita por Weber. 🔗
2.Algoritmos como "intelectuais orgânicos":
- A recomendação automatizada de conteúdo funciona como um mecanismo que reforça a ideologia: o usuário recebe diariamente doses de "verdade" que parecem espontâneas, mas reproduzem valores do status quo (consumo, produtividade, meritocracia) 🔗
3. Narrativas da crise e do medo
- Assim como Hitler explorou a ansiedade econômica dos anos 1930, campanhas atuais - seja sobre "invasões" virtuais, novas pandemias ou colapsos financeiros - criam consenso em torno de medidas autoritárias que antes seriam inaceitáveis.
4. "Fé" em marcas e tecnologia
- Empresas que se posicionam como "salvadoras" do planeta ou da "saúde" individual usam linguagem quase religiosa (missão, propósito, comunidade) para fidelizar consumidores - um controle que opera pelo desejo e pela identidade, não pela força.
Portanto, o mecanismo é o mesmo: simplificação do pensamento + linguagem persuasiva → submissão voluntária.
A diferença é que, hoje, o altar pode ser um feed de noticias, um podcast ou uma live de domingo.
RELIGIÃO E O DIREITO
Assim, surgiram as normas que regulam o organizam o comportamento social, fundamentadas pela Religião e pelo Direito.
A fé instala no indivíduo a convicção de que um Ser Supremo comanda o cosmos, falando à humanidade por intermédio de profetas, sacerdotes ou pastores.
Em paralelo, o Direito reveste-se de sacralidade: juízes, promotores e legisladores tornam-se seus "clérigos" contemporâneos, encarnando a voz da lei como se fosse dogma revelado.
Assim, ambos os sistemas - religioso e jurídico - convertem-se em duas catedrais de autoridade inquestionável, onde a desobediência é pecado e a contestação, heresia.
Religião e Direito não se excluem: a fé oferece horizontes éticos que inspiram leis mais humanas, ao passo que o Direito, ao garantir liberdade religiosa, pluralidade cultural e proteção de minorias, traduz esses ideais em garantias concretas.
O resultado é um diálogo virtuoso - valores se tornam normas, e normas protegem valores - capaz de sustentar sociedades mais justas e inclusivas.
RELIGIÃO E DIREITO COMO DISCIPLINADORES
Em geral podemos identifica algumas fases principais onde a religião influenciou o direito:
- Fase teocrática: quando a fé era o fundamento do direito - Durante a Idade Média e em sociedades arcaicas, o sagrado não apenas inspirava as normas - ele as legitimava. Textos revelados, tradições litúrgicas e pronunciamentos dos clérigos eram tidos como fontes primária de toda legislação; interpretar a vontade divina equivalia a interpretar a própria lei. Reis coroavam-se diante dos altares, juízes eram também sacerdotes, e sentenças se proferiam em nome de Deus. Assim, a religião não apenas influenciava o direito: ela o encarnava.
- Fase da secularização inversa: quando o Direito se apossa do sagrado - à medida que as monarquias absolutas e, depois, os Estados - nação consolidaram seu poder, a religião deixou de ser a matriz do ordenamento jurídico para tornar-se seu objeto. Código civis e penais passaram a definir o alcance da fé: regiam a posse dos bens eclesiástico, o recrutamento de clérigos, o casamento, a blasfêmia e até a liturgia. Conselhos reais e parlamentos secularizados substituída o tribunal eclesiástico; o sacerdote, antes legislador, tornou-se jurisdicionado. A autoridade divina foi assim subsumida pela soberania estatal, que instrumentalizava o religioso conforme seus próprios interesse políticos.
- Fase da convivência plural: quando religião e direito se reconhecem como parceiros autônomos - num processo que se acelera a partir dos séculos XIX-XXI, o Estado laico e as confissões religiosas passam a operar em campos distintos, mas complementares. O direito não impõe credos, mas garante o livre exercício religioso; as igrejas, por sua vez, não criam normas civis, mas oferecem valores que alimentam a legislação em áreas como bioética, justiça restaurativa, direitos humanos e políticas sociais. Nasce, assim, uma parceria simétrica: o Estado protege a diversidade confessional, e as confissões contribuem com saberes morais para o diálogo democrático, sem disputar a última palavra ao Judiciário secular.
Representantes religiosos têm aumentado sua participação em instituições democráticas e mecanismos de controle social.
O HOMEM COMO ATOR SOCIAL
Como ator social, o homem assume diferentes papéis conforme o contexto, guiado tanto pelas leis divinas quanto pelas leis humanas. Ao interagir com outros atores sociais, ele deverá respeitar as normas e ocupar seu espaço no tempo e no contexto, alinhado aos meios de produção.
Ainda assim, a intrincada conexão entre religião e trabalho questiona essa perspectiva convencional.
A religião, para muitos, traz um conjunto de valores e princípios que guiam a conduta no ambiente profissional. Ética, honestidade, compaixão e responsabilidade social podem ser fundamentos tanto da fé quanto da vida profissional.
Por outro lado, a religião pode ser usada para justificar práticas trabalhistas exploradoras ou discriminatórias. A crença na predestinação, por exemplo, pode servir para legitimar condições de trabalho precárias ou a submissão de grupos minoritários.
É importante pensar sobre como a religião se expressa no ambiente de trabalho, considerando suas várias nuances e impactos. Em certos momentos, a fé pode ser uma fonte de força e inspiração para os funcionários, mas em outros, pode acabar sendo usada como ferramenta de manipulação e opressão.
Por fim, é responsabilidade do homem, como ator social, compreender essa complexa relação entre religião e trabalho, buscando criar um ambiente profissional ético, justo e mais humano.
Para explorar melhor essa relação, proponho os seguintes pontos para sua reflexão:
- Analisar como diferentes tradições religiosas interpretam o significado do trabalho e o papel do trabalhador;
- Investigar como a religião influencia as decisões éticas tomadas no âmbito profissional;
- Examinar os casos em que a religião é utilizada para justificar práticas trabalhistas abusivas;
- Explorar como a fé pode ser uma fonte de resistência contra a opressão no local de trabalho;
- Discutir o papel das instituições religiosas na promoção da justiça social e do trabalho decente.
Comentários