🧶 Da Glória ao esquecimento: a história da desvalorização dos ofícios manuais que resultou no subemprego doméstico
Antes das fábricas, os artesãos eram o alicerce da produção de bens na sociedade. Com o advento da indústria, os trabalhos manuais realizados por eles, organizados em guildas, foram absorvidos pelo sistema industrial. É uma história ao mesmo tempo inquietante e nostálgica, marcada pela desvalorização dos ofícios manuais e pela marginalização do artesanato.
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Fonte: Pinterest |
🧶 O Artesão Pré-industrial: o Mestre da Produção
Em vez e uma única pessoa produzir dos os passos até obter o produto final, o processo manual para confeccionar as peças artesanais, abrangia uma vasta gama de ofícios altamente especializados.
O que tornava esse processo mais interessante, era a profissionalização de cada artesão, que buscava o seu aprimoramento e, consequentemente, desenvolviam obras de arte.
Os mestres artesãos orientavam seus aprendizes, portanto, o artesão se tornava habilidoso, um estudioso do seu ofício.
As guildas, dispunham e mestres artesãos como:
- Carpinteiros e Marceneiros: Esses artesãos eram especialistas na manipulação da madeira. Eles construíam desde os móveis complexos e camas até as estruturas de telhados e portas de casas;
- Ferreiros e Armeiros: A produção de armas, por sua vez, era um ofício distinto, de responsabilidade de ferreiros armeiros. Eles eram mestres no trabalho com metal. forjavam armas como espadas, lanças, machados, e, mais tarde, peças para canhões. Essa era uma habilidade de alto valor e demandava conhecimentos específicos sobre a composição e o tratamento de metais, garantindo a resistência e a precisão dos instrumentos de guerra.
A habilidade e a maestria não se perdiam na produção de itens variados, mas eram aprimorada em um ofício específico, seja na criação de um objeto doméstico ou de uma arma de guerra.
⚙️A Máquina substitui o saber manual
Com a chegada da Revolução Industrial, tudo se transformou, levando à desvalorização do trabalho manual e das profissões dos mestres artesãos.
Em países como Portugal (1834), leis foram criadas para extinguir as guildas, desmantelando o sistema "Mestre aprendiz."
O artesão passou a competir com as indústrias - sozinho, sem proteção corporativa.
Sem a devida proteção corporativa, o artesão tornou-se um trabalhador isolado e seu trabalho manual se tornou obsoleto já que passou a competir com as industrias.
Máquinas de tecer, fornos contínuos e produção em massa baratearam o custos e expulsaram os artesãos do mercado principal.
Sem capital para competir, muitos passaram a trabalhar em casa ou em micro-oficinas, recebendo preços irrisórios de comerciantes.
Dessa forma, um trabalhador isolado não atendia a demanda de mercado.
Na Europa, o artesanato começa a se deslocar para atividades secundárias, produzidas pelos anciões em aldeias que ainda resistiam aos novos costumes ou por desempregados, mulheres e crianças.
Assim, completava-se o processo de desvalorização do trabalho manual, com o artesão sendo substituído pelo operário em uma linha de produção mais eficiente para atender às demandas do mercado.
Máquinas de tecer, fornos contínuos e linha de montagem substituem a produção manual; o operário realiza uma única operação, enquanto o artesão era o dono de todo o processo.
A oferta de produtos industrializados barateia custos e expulsa os artesãos do mercado principal, relegando-os a nichos marginais.
O filósofo Karl Marx descreveu esse processo de descontinuidade de uma profissão como: "decomposição da atividade do artesão em operações parcelares" e sua transformação em trabalho precário e mal remunerado. 🔗
Nas cidades industriais, artesãos viram "trabalhadores domiciliares" ou "tarefeiros", recebendo matéria-prima de fábrica para acabamento manual, em jornadas intermináveis e sem proteção social.🔗
Essa ocupação fora da lógica fabril, com renda inferior ao salário-operário e sem perspectiva de ascensão, passou a caracterizar o que chamamos de subemprego.
O QUE É O SUBEMPREGO?
Subemprego é quando o trabalhador está empregado, mas em condições precárias - com baixa renda, pouca proteção e sem perspectiva de ascensão. Joan Robinson introduziu esse conceito em 1937, chamando-o de "desemprego disfarçado".
Hoje, também usamos termos como "bico", "trabalho autônomo" ou "economia informa" para descrever essa realidade. 🔗
A Desvalorização do Trabalho Manual
O sistema capitalista promove o desdém pelo feito à mão, tratando o trabalho manual como um hobby ou passatempo
Como vimos até agora, durante a transição da manufatura para a industrialização, leis foram erguidas para extinguir as guildas e cooperativas de artesãos, promovendo, assim, um processo de desvalorização desse ofício pelos detentores do capital.
O desdém pela produção artesanal reflete como o sistema capitalista veio a dominar a nossa cultura.
O artesanato começou a ser percebido como um hobby para mulheres de classe alta ou uma atividade de aposentados, referindo-se aos artesãos que conseguiram resistir à extinção das guildas.
A cultura do descartável vc. o valor do feito à mão
Vivemos na era do fast fashion, do consumo acelerado, do tudo barato e rápido.
Por fim, a partir do século XVIII, o artesanato deixou de ser ofício corporativo para converter-se em subemprego: produção dispersa, baixa remuneração e inserção periférica na cadeia capitalista.
O subemprego é uma realidade, e os artesãos são profundamente afetados por essa condição econômica.
Artesão Brasileiro e Direto do Trabalho: um diálogo (im) possível?https://periodicos.pucminas.br/Direito/article/download/P.2318-7999.2014v17n34p231/7619: Pesquisa em 13 de agosto de 2025, 15:28.
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