Atualmente, atua como líder do programa Renova BR, um grupo de jovens da sociedade civil comprometidos em renovar a política, fomentando uma nova geração de homens preparados para servir a sociedade através de seus cargos eletivos.
Jovem, atuante e envolvida nas questões sociais e políticas de nosso país. Tratando de mostrar sua determinação como mulher brasileira que quer conquistar o seu espaço e auxiliar outras pessoas para que também tenham melhores condições sociais para as suas vidas.
Gentilmente cedeu para o Blogger ‘O Condutor do Tempo’ uma entrevista onde nos conta o seu posicionamento a respeito da participação feminina e de jovens na Política atual e a sua vontade em representar a diferença.
"BLOGGER. Quando surgiu a vontade de trilhar uma vida pública sendo você tão jovem? Na sua família alguém te influenciou ou isso é próprio de você mesma?
ALESSANDRA MONTEIRO. Política nunca foi um assunto na minha casa, não era algo que fazia parte da conversa durante o jantar. Eu tenho lembranças da minha infância em que, nos dias chuvosos, minha mãe amarrava sacolas de plástico nos meus pés para que eu chegasse limpa na escola. As ruas do nosso bairro ainda eram de terra e a caminhada até a escola sujava meu uniforme.
Anos depois, já uma jovem na faculdade, essa memória veio muito forte. Era de manhã, eu estava saindo para o trabalho e chovia muito em Mogi das Cruzes. Parada no ponto de ônibus, meus pés estavam encharcados por causa da chuva. Naquele momento, eu me fiz uma pergunta: por que é que não há um telhado neste ponto de ônibus, para proteger as pessoas que esperam? Eu me lembrei do cuidado que minha mãe tinha comigo quando criança e passei a me perguntar quem deveria estar cuidando daquelas pessoas - senhoras, crianças, trabalhadores - que esperavam no ponto de ônibus.
Nesse momento, fiquei ainda mais chateada, pois eu não sabia quem era responsável por garantir que o ponto de ônibus tivesse um telhado para proteger os usuários. Na época, eu não entendia que aquilo fazia parte de uma política pública. A partir daquele dia, eu decidi que iria descobrir quem eram os responsáveis por cuidar da cidade. Foi assim eu descobri a política: na simplicidade do meu dia a dia. Ainda jovem, como uma cidadã comum, percebi a importância de políticas públicas bem executadas para garantir a nossa qualidade de vida"
BLOGGER. Como foi concorrer ao cargo de Deputada Estadual em 2014? E ainda obter uma expressividade de votos sendo a sua primeira vez? O que passou pela sua cabeça, quais foram os sentimentos e como é deitar na sua cama e sentir todo aquele turbilhão de acontecimentos?
ALESSANDRA MONTEIRO. Disputar a eleição em 2014 foi um desafio enorme, por vários motivos. Estávamos disputando com pessoas muito poderosas, com muita influência na região e com grandes fontes de recursos. Nossa realidade era diferente, mas sem dúvidas nos sobrava vontade de gerar transformação na política.
Algo que sempre falo é que, numa eleição, existem dois tipos de ganhos: o eleitoral e o político. Ganhar a cadeira que você está pleiteando é uma forma de vencer a eleição. Mas, ainda que não a cadeira não venha, nada pode mudar a vida das pessoas que você impactou durante a eleição. Esse ganho muitas vezes é maior do que a própria vitória eleitoral. Em 2014, quando as urnas foram apuradas, eu não tive um sentimento de derrota. Eu tive um sentimento de vitória, ao ver um time de pessoas que renovaram suas esperanças na política.
BLOGGER. Hoje, em 2018, você acha que os jovens estão mais preparados para o exercício de uma atividade política? Ainda existem barreiras a serem rompidas pelos jovens ou depois dos últimos acontecimentos envolvendo a Presidente da República e toda a estrutura de um dos partidos mais importantes do país pode ter mudado a realidade da nossa juventude para que eles participem de futuros pleitos?
ALESSANDRA MONTEIRO. Acredito muito no poder da juventude para transformar a política. Sem dúvidas, precisamos de jovens que estejam preparados para lidar com a hostilidade do jogo do poder. Além disso, precisamos mais do que pessoas novas de idade. Precisamos de gente que tenha novas ideias, que ajude de verdade a fazer da política um ambiente mais inovador. Não adianta ser jovem mas carregar velhas ideias que já se provaram ineficazes. Posso dizer que essas pessoas têm se levantado e uma prova disso é a escola de líderes públicos Renova BR. Vários dos pré-candidatos selecionados representam justamente esse movimento de juventude na política.
BLOGGER. Você se acha um ser político no sentido estrito da palavra? Por quê?
ALESSANDRA MONTEIRO. Eu costumo dizer que todos somos seres políticos. Até mesmo quem diz que não gosta da política institucional e não quer participar, está tomando uma atitude política: a da omissão. Gosto também de destacar que na política institucional não há espaços vazios. Isso significa que as cadeiras serão ocupadas e as canetas estarão nas mãos de alguém. Aqueles que se negam a participar do jogo estão abrindo mão do seu poder de decidir quem vai sentar nas cadeiras e quem vai assinar os papeis.
BLOGGER. A escolha do partido é importante para um candidato?
ALESSANDRA MONTEIRO. Hoje a escolha do partido é talvez a mais importante decisão que um candidato toma em sua trajetória política. Isso porque, ao contrário dos Estados Unidos e algumas nações europeias, é proibido ser um candidato independente no Brasil. Ou seja: se você quer disputar a uma eleição, você deve estar filiado a algum partido.
O problema é que os últimos dados do TSE mostram que nem mesmo 10% da população é filiada. Isso mostra que, no fim do dia, boa parte da população simplesmente não tem nem a perspectiva de se candidatar. E, quando um cidadão decide disputar a eleição, ele precisa procurar um partido entre 35. Isso não é uma tarefa fácil, ainda que tenhamos muitas opções. Boa parte dos partidos não possui um projeto claro para o país, ou uma ideologia que justifique sua existência. A realidade brasileira é que a maior parte dos partidos serve apenas para negociatas e trocas de favores.
Para piorar esse cenário, nós sabemos que hoje os partidos políticos estão entre as instituições que mais perderam a confiança do brasileiro nos últimos anos. Não há um partido hoje que esteja a salvo da desconfiança do cidadão e isso é mais do que justo dados os últimos casos de corrupção. Por isso, onde quer que o candidato esteja, ele será questionado. Então ficamos nessa encruzilhada: não existe partido perfeito e não se pode disputar a eleição sem estar filiado a um. Essa é certamente uma das decisões mais difíceis para o candidato.
BLOGGER. A agremiação te ajuda a buscar sempre mais conhecimento ou você tem que correr atrás de tudo isso sozinha?
ALESSANDRA MONTEIRO. Quando olhamos para os EUA, sabemos dizer de quais universidades virão os próximos presidentes: Harvard, Yale, Stanford. No Brasil, não se pode dizer o mesmo. Não existem grandes escolas que preparam líderes públicos. Os partidos também não realizam esse papel, ainda que uns ou outros promovam tímidas atividades preparatórias para as eleições.
Em meio a esse cenário, surgiram algumas iniciativas importantes no Brasil para formar candidatos. Eu participo de todas essas iniciativas, justamente por acreditar que precisamos de pessoas capacitadas para liderar o país. Sou Líder RAPS desde o ano de 2014, sou também bolsista do programa de líderes públicos da Fundação Lemann e sou também uma das pré-candidatas selecionadas pelo Renova BR.
BLOGGER. Como você vê a participação feminina nas atividades político-partidária? Somos realmente representadas em todas as esferas de governo?
ALESSANDRA MONTEIRO. Estamos disputando mais eleições, mas o percentual de mulheres eleitas continua estagnado no Brasil. Isso tem muitas causas, mas pode-se dizer que os partidos políticos são grandes responsáveis por essa discrepância. Ainda não somos prioritárias na captação e distribuição de recursos, o trabalho de capacitação de mulheres ainda é tímido e a própria presença de mulheres nos partidos é extremamente baixa. Em muitas agremiações, as candidaturas femininas são laranjas, funcionando apenas para cumprir as cotas de participação definidas recentemente. Não, nós não somos representadas em todas as esferas do governo e ainda há muito trabalho a ser feito para mudar isso.
BLOGGER. Você acha necessário que além de ter uma participação na política cada vez maior por parte das mulheres elas também busquem a formação acadêmica?
ALESSANDRA MONTEIRO. Acredito que a formação acadêmica é importante para todos os candidatos que busquem construir uma campanha e mandatos sólidos. No entanto, no caso das mulheres eu acredito que o gargalo é ainda mais atrás. Antes de exigir formação acadêmica das que hoje estão na política, precisamos atrair mais mulheres para participar. Os partidos ainda são majoritariamente ocupados por homens. Precisamos fazer da política um espaço em que as mulheres se sintam parte. Depois disso, devemos prepará-las para disputar as eleições.
BLOGGER. Você acha importante que as pessoas que pleiteiam um cargo eletivo ou que participem direta ou indiretamente das atividades políticas, seja nas atividades e estrutura de um partido, seja no exercício de funções públicas procurem se preparar melhor? Obtendo também um aprimoramento acadêmico através dos cursos de graduação, técnicos e cursos livres? Que todas as pessoas envolvidas no processo político devem se aprofundar nas questões políticas que envolvem sua cidade e o país para assim sendo melhorar o desempenho de todos: candidatos, legisladores, funcionários públicos e cidadãos?
ALESSANDRA MONTEIRO. Infelizmente, o que vemos hoje na política brasileira são representantes que não inspiram por sua capacidade intelectual, acadêmica, de análise etc. Nos parece que a política se tornou uma atividade que conta muito com o poder de negociação, mas que carece de visões mais técnicas. O resultado disso são acordos e decisões políticas que claramente não vão trazer bons resultados para o país e que só fazem sentido quando entendemos o jogo de poder que está por trás. Por isso, acredito sim que precisamos de líderes que tenham um olhar mais técnico e isso vem da capacitação, formação e estudo. Nesse sentido, acredito que precisamos fomentar iniciativas como a da RAPS e do Renova BR, verdadeiras escolas de fazer política com valores, ética e respeito.
BLOGGER. O que você acha de candidatos que ainda pensam que para ser eleito precisa de muito dinheiro para realizar sua campanha?
ALESSANDRA MONTEIRO. A verdade é que em muitos lugares do país, o dinheiro ainda define as eleições. Existem estudos que apontam um aumento escandaloso da corrupção durante os períodos eleitorais. Usa-se as mais diversas táticas de compra de voto, negociatas e acordos, favorecendo os que têm mais recursos financeiros. Os candidatos da reeleição contam ainda com a própria estrutura do gabinete: assessores pagos, emendas parlamentares, auxílios de verba indenizatória etc. Diante desse cenário, os candidatos de primeira viagem podem ficar amedrontados. No entanto, eu acredito que é possível sim fazer uma campanha limpa, econômica e justa. Isso começa no combate às táticas de compra de voto, propinas e outros exemplos que citei. Passa também pelo incentivo ao voluntariado, que tem servido de base para a mobilização de pré-campanhas como a nossa.
BLOGGER. É possível fazer campanha política apenas com trabalho e dedicação? Você acha que o eleitor esta consciente para votar num candidato ‘limpo’ sem os vícios trazidos pelos antigos conceitos de que eleição se vence com uma campanha de santinhos e papel?
ALESSANDRA MONTEIRO. Eu acredito que o eleitor brasileiro finalmente abriu seus olhos para a política. Creio que neste ano teremos muitas pessoas votando em candidatos novatos na política ou invalidando o voto. Meu objetivo é trazer de volta a esperança para essas pessoas que quer anular ou votar em branco.
BLOGGER. Por que ser Deputada?
ALESSANDRA MONTEIRO. Nossa Assembleia Legislativa bateu o recorde de reeleição em 2014. Quase 70% dos candidatos eleitos já eram deputados estaduais a pelo menos um mandato. O custo de manutenção dos nossos 94 candidatos é muito alto e o trabalho que tem sido realizado tem realizado pouco ou quase nenhum resultado para o cidadão.
Das leis aprovadas em 2016, mais da metade diziam respeito de nomes de rua ou criavam datas comemorativas. O descaso dos atuais deputados com as CPIs, ferramentas de enorme importância para a função de fiscalização dos deputados, é inaceitável. Das 23 CPIs criadas até o fim de maio, 8 terminaram sem nenhuma reunião realizada. Nosso estado é tem um PIB de 1,9 trilhão, com uma população de 45,3 milhões. Precisamos de deputados que realizem um trabalho à altura da importância de nosso estado para o país.
BLOGGER. Você desenvolve um trabalho social além das atividades políticas? Acha importante que o candidato desenvolva um trabalho mais assistencial estruturando seu trabalho político em uma única base de atuação, o que alguns políticos chamam de ter ‘uma bandeira’, ou deverá atuar em todos os segmentos sociais para alcançar as soluções para os problemas sociais defendendo assim os interesses coletivos e difusos dos cidadãos que a elegerão?
ALESSANDRA MONTEIRO. Existem diversos tipos de candidaturas, inclusive as que são movidas por pautas específicas. Acredito que esses tipos de candidatos são importantes, já que o poder legislativo é justamente o espaço onde ideias de mundo devem ser discutidas. Acredito que, ainda assim, o representante deve ser capaz de se posicionar sobre os mais diversos temas. E, o mais importante, o candidato deve saber deliberar sobre os assuntos que correspondem ao interesse público.
No meu caso, tenho três causas que movem o meu trabalho e uma delas diz respeito justamente ao trabalho social que realizei nos últimos anos Fiz parte da gestão da 27 Million, uma organização social dedicada ao combate à exploração laboral. No Brasil, grande parte desse crime corresponde à exploração sexual. No meu projeto para as eleições de 2018, quero focar no combate à exploração sexual infantil como uma frente muito importante da segurança público no estado. Precisamos cuidar daqueles que são os mais vulneráveis hoje em nossa sociedade.
BLOGGER. As atividades políticas podem atrapalhar a sua vida pessoal?
ALESSANDRA MONTEIRO. A vida de todo cidadão é cercada de atividades políticas. Fazemos isso em cada grupo de relação no nosso dia a dia, por tanto a política é parte integral da vida.
BLOGGER. Que aprendizado poderá deixar aos leitores do blogger que desejam dedicar-se à vida política?
ALESSANDRA MONTEIRO. Quem quer que deseja entrar para a política, precisa entender que ela não é um jogo para amadores. Nós, que fazemos parte de um movimento de renovação política, vamos competir com grandes nomes que já são consolidados. Alguns já estão há mais de 20 anos na casa legislativa do estado de São Paulo. Por isso, precisamos estar preparados para enfrentar as grandes forças do sistema que dominam hoje a política brasileira.
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